De repente, você se dá conta de que o fulano da padaria já sabe exatamente o que você vai pedir — o pão de abóbora sem glúten, fatiado —, a fulana da farmácia separa seu suplemento no caixa toda vez que te vê entrar, e a fofa da cafeteria já sabe que troquei o café pelo chai-latte-com-leite-vegetal. A recepcionista da academia te cumprimenta pelo nome todas as manhãs (tudo bem, talvez ela leia meu nome quando passo o cartão, mas deixa eu acreditar que somos amigas!), e a professora de yoga me abraça — isso, eu posso provar! São gestos simples que fazem a gente se sentir “local” — e isso é tão bom!
Já me sinto autorizada a fotografar as lojas de decor sem ficar constrangida ou ser chamada a atenção, e de repente sou convidada pela WGSN para assinar a edição do novo guia de Lisboa e penso: “Uau!”
Mesmo que o calor dos sorrisos brasileiros seja lembrado com saudade, e que ainda me pegue meio sem jeito toda vez que tento puxar conversa com algum atendente ou deixo escapar uma simpatia que soa exagerada pra eles (acontece o tempo todo, haha!), começo a me sentir em casa :) Já não preciso mais de GPS para algumas rotas, e consigo dar mais de um mergulho, sem drama, nas marés geladas dos dias de verão sem fim. Só falta mesmo dominar a conjugação dos verbos e me habituar a dar só um beijinho, em vez de dois...
Obrigada, Portugal, pelas incontáveis novas amizades, pelas inúmeras exposições, concertos e eventos culturais deliciosos. Pelos infinitos restaurantes, bares, feiras e lojinhas que eu amo. Pelas conexões profissionais que multiplicaram os caminhos da minha carreira. Pelas paisagens de filme, pelas luas cheias, pelas bolas de fogo que pintam o horizonte ao entardecer em 229 dos 365 dias do ano, e pelos arco-íris gigantes que aparecem (do nada) em dias alternados, roubando o fôlego. Quatro anos é tempo suficiente para acumular vivências, e cada passo tem seu lugar na construção dessa nova vida cá.
Eu, Marcella (sentindo-se quase PURtuguesa)
Discussão sobre este post
Nenhuma publicação